Poesia trovadoresca e sua relação com a música popular
Objetivo
- apresentar a poesia trovadoresca e suas características de
forma e conteúdo;
- identificar a estreita relação da poesia trovadoresca com a
música e reconhecer os efeitos de sentido decorrentes desta relação;
- relacionar a poesia trovadoresca com a música popular
contemporânea e identificar as possíveis semelhanças temáticas e formais.
Duração das atividades
- 4 aulas
Organização da sala
- pequenos grupos de alunos que pesquisarão e discutirão sobre
o tema.
Recursos didáticos
- Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com os alunos.
- Habilidades básicas de leitura e escrita.
- Conhecimento histórico sobre o período trovadoresco.
- Utilização do laboratório de informática e da biblioteca.
Desenvolvimento das atividades
1ª aula
Para a primeira atividade apresentar para os alunos as imagens
abaixo, disponíveis nos respectivos sites:
Solicitar para que levantem hipóteses sobre a origem dessas
imagens e sobre quem podem ser esses indivíduos representados nelas.
Após as hipóteses, espera-se que os alunos, ao menos,
aproximem seus apontamentos em relação ao período histórico, a Idade Média, por
causa das vestes e das características dos instrumentos musicais. Em relação ao
papel dos indivíduos retratados na imagem, provavelmente, os alunos irão
defini-los como músicos, devido aos instrumentos empunhados por eles e às
pautas inscritas ao fundo na segunda imagem.
Tendo em vista essa relação apresentar a seguinte questão para
um debate:
O que esses homens têm a ver com
a poesia?
No princípio pode sobressair a dúvida, por não haver
referências na imagem à linguagem poética, principalmente a escrita, mas aos
poucos deve inserir elementos com algumas dicas históricas, como o
questionamento sobre a definição de "trova", para que os
alunos compreendam que esses cantadores também eram poetas, muitas vezes mais
poetas do que músicos.
Mais uma vez o estimular os alunos a demonstrar seus
conhecimentos históricos, perguntando, por exemplo, o que sabem sobre
trovadores, vates e menestréis?
Levá-los para o laboratório de informática ou biblioteca para
que consultem alguma enciclopédia para o esclarecimento de quem foram esses
cantadores e do contexto em que viviam.
Daí ficará esclarecido que trovadores, vates e menestréis eram
os cantadores, que portando instrumentos como o alaúde, a lira, a flauta, e
outros, levavam para a corte, e mesmo para os plebeus, na Idade Média, o
conhecimento de histórias de outros reinos e lugares distantes, além da
expressão sentimental de seus versos cantados.
É importante que fique claro para os alunos que a poesia na
época dos trovadores era oral, sendo registrada apenas mais tarde em
cancioneiros, e por isso era acompanhada da música para facilitar a
continuidade do ritmo e a memorização dos textos. Consequentemente, esses
poemas cantados passaram a ser chamados cantigas.
As cantigas, geralmente, eram acompanhadas por um coro e por
instrumentos musicais. Seu público não era constituído de leitores, mas de
ouvintes. Era, portanto, poesia intimamente ligada à música, própria para
apresentações coletivas.
As cantigas compostas pelos trovadores eram musicadas e
interpretadas pelos jograis, pelo segrel e pelo menestrel (gente humilde que
sobrevivia cantando em público), artistas agregados às cortes ou que
perambulavam pelas cidades e feiras. Os trovadores eram quase sempre de origem
nobre.
Após essas informações contextuais, adquiridas com a pesquisa,
a classe pode chegar a uma conclusão sobre as características das cantigas.
Dividir a sala em grupos e pedir que exponham para os colegas os dados
coletados na pesquisa, além da conclusão de cada grupo.
2ª aula
Para a segunda atividade apresentar para os alunos as
características dos gêneros das cantigas:
Lírico (amor e amigo) e Satírico (escárnio e maldizer).
As cantigas de escárnio e maldizer são a primeira
manifestação da sátira na literatura portuguesa. Menos presas a modelos e
convenções do que as cantigas de amigo e de amor, as cantigas satíricas
buscaram um caminho poético próprio voltando-se para a crítica dos costumes,
tendo como alvo diferentes personalidades da sociedade portuguesa: clérigos
devassos, cavaleiros e nobres covardes, prostitutas, alguns trovadores e
jograis, as soldadeiras (mulheres que cantavam e dançavam durante as
apresentações). Há uma pequena diferença entre esses dois tipos de cantiga:
enquanto na cantiga de escárnio o nome da pessoa satirizada não é revelada, na
cantiga de maldizer fica claro para quem é a sátira, sendo a linguagem da
segunda mais direta e obscena.
Para esta aula, é necessário dar mais atenção às cantigas
de amor e de amigo.
Abaixo um exemplo de cantiga de amigo onde o trovador Julião Bolseiro, o
diálogo se estabelece entre a mulher apaixonada e sua filha, que impede a mãe
de ver seu amado:
Mal
me tragedes, ai filha,
porque quer ‘ aver amigo
e pois eu com vosso medo
non o ei, nen é comigo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Sabedes ca sen amigo
nunca foi molher viçosa,
e, porque mi-o non leixades
ver, mia filha fremosa,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
porque quer ‘ aver amigo
e pois eu com vosso medo
non o ei, nen é comigo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Sabedes ca sen amigo
nunca foi molher viçosa,
e, porque mi-o non leixades
ver, mia filha fremosa,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Pois
eu non ei meu amigo,
non ei ren do que desejo,
mais, pois que mi por vós v~eo
Mia filha, que o non vejo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Por vós perdi meu amigo,
por que gran coita padesco,
e, pois que mi-o vós tolhestes
e melhor ca vós paresco
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça
non ei ren do que desejo,
mais, pois que mi por vós v~eo
Mia filha, que o non vejo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Por vós perdi meu amigo,
por que gran coita padesco,
e, pois que mi-o vós tolhestes
e melhor ca vós paresco
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça
Solicitar aos alunos, após a leitura da cantiga que apontem
seus elementos característicos,sendo: temática; eu lírico; forma paralelística;
refrão.
A temática das cantigas de amigo é variada:
(a) a separação do namorado, que parte em alguma expedição
militar e a espera de seu retorno;
(b) a romaria a lugares santos, onde a donzela busca uma
conquista amorosa, através da dança;
(c) as bailadas, que versam exclusivamente o tema da dança;
(d) as marinhas ou barcarolas, à beira do mar;
(e) o tema das tecedeiras, no interior dos lares;
(f) e o tema das chamadas cantigas de fonte, onde as donzelas
iam lavar os cabelos ou mesmo a roupa, encontrando-se então com os namorados.
Em alguns casos, os temas se confundem, há uma fusão. Na forma
paralelística da cantiga de amigo, a unidade rítmica não é a estrofe, mas o par
de estrofes ou o par de dísticos (dois versos). Ambos os dísticos dizem a mesma
coisa, diferindo quase só nas palavras em rima. O último verso de cada estrofe,
quase sempre, é o primeiro verso das estrofes no par seguinte. Assim, nessa
estrutura paralelística, observa-se que os versos de um par de estrofes se
repetem no outro par sem sofrer alteração de sentido, somente na forma se
alteram, e são seguidos de refrão, como no exemplo.
Abaixo uma cantiga de amor do século XIII, do trovador
Joan Garcia de Guilhade:
Amigos, non poss’eu negar
a gram coita que d’amor hei,
ca me vejo sandeu andar,
e com sandece o direi:
os olhos verdes que eu vi
me fazem ora andar assi.
Pero quenquer x’entenderá
aquestes olhos quaes som,
e d’est alguem se queixará,
mais eu, já quer moiro ou non:
os olhos verdes que eu vi
me fazem ora andar assi.
me fazem ora andar assi.
Pero non devi’ a perder
home que já o sem non há,
de com sandece rem dizer,
e com sandece dig’ eu já;
os olhos verdes que eu vi
me fazem ora andar assi.
Após a leitura da cantiga, solicitar aos alunos que apontem no
caderno os elementos característicos das cantigas de amor: temática; eu lírico;
expressão do amor cortês
3ª aula
Antes de apresentar alguns textos de nossa música popular, que
trazem as características das cantigas trovadorescas, mostrar aos alunos a
imagem do "Violeiro" (1899), do pintor Almeida Júnior. Solicitar que
destaquem algumas particularidades da imagem:
O que faz o homem ao centro?
Para quem ele dirige sua cantiga?
Em que ambiente ele se encontra (urbano ou rural)?
Disponível em: http://www.cecac.org.br/Artes_Almeida_Jr.htm
Após a participação dos alunos, explicar qual a relação entre
o meio rural, o caipira, seu violão e sua amada.
O violeiro é um cantador solitário como eram os trovadores e
menestréis e é com sua cantiga que se comunica com a amada (senhora). Salvo as
diferenças culturais e históricas, podemos perceber as semelhanças entre esse
cantador sertanejo e os poetas trovadores (principalmente o das cantigas de
amigo, que tematizam a simplicidade do ambiente campestre e a cultura popular,
embora este eu lírico seja geralmente feminino, cabendo ao eu lírico masculino
a expressão nas cantigas de amor).
Na nossa música popular também ocorrem algumas manifestações
desses cantadores que se assemelham aos trovadores. Alguns deles são fiéis à
estrutura de composição, à temática medieval e a uma variante arcaica ou
regionalista da língua, com termos de pouco uso contemporâneo, sobretudo nos
ambientes urbanos. Isso faz com que suas cantigas estejam muito próximas das
medievais, considerando a distância temporal de 1000 anos, ao mesmo tempo que
são um exemplo típico da cultura do sertão brasileiro.
Um dos maiores exemplos da tradição do cantador, na
atualidade, é Elomar Figueira de Melo.
Abaixo a canção "O Violêro", que expressa muito bem
qual a função do "errante" dessa "mudernage". Após se apresentar,
revelar sua crença religiosa e dizer que já cantou em um castelo (referências
ao medievalismo), o trovador ressalta que o que mais vale para ele é a música,
a liberdade e o amor: "viola, furria, amô, dinhêro não". É o que
canta até o fim, independente de sua penúria: "sem um tustão na cuia u
cantadô/ canta inté morrê o bem do amô".
O Violêro
Vô cantá no canturi primero
as coisa lá da minha mudernage
qui mi fizero errante e violêro
eu falo séro i num é vadiage
i pra você qui agora está mi ôvino
juro inté pelo Santo Minino
Vige Maria qui ôve o qui eu digo
si fô mintira mi manda um castigo
Apois pro cantadô i violero
só hai treis coisa nesse mundo vão
amô, furria, viola, nunca dinhêro
viola, furria, amô, dinhêro não
Cantadô di trovas i martelo
di gabinete, ligêra i moirão
ai cantadô já curri o mundo intêro
já inté cantei nas portas di um castelo
dum rei qui si chamava di Juão
pode acriditá meu companhêro
dispois di tê cantado u dia intêro
o rei mi disse fica, eu disse não
o rei mi disse fica, eu disse não
Si eu tivesse di vivê obrigado
um dia inantes dêsse dia eu morro
Deus feis os homi e os bicho tudo fôrro
já vi iscrito no Livro Sagrado
qui a vida nessa terra é u'a passage
i cada um leva um fardo pesado
é um insinamento qui derna a mudernage
eu trago bem dent' do coração guardado
Tive muita dô di num tê nada
pensano qui êsse mundo é tud'tê
mais só dispois di pená pelas istrada
beleza na pobreza é qui vim vê
vim vê na procissão u Lôvado-seja
i o malassombro das casa abandonada
côro di cego nas porta das igreja
i o êrmo da solidão das istrada
Pispiano tudo du cumêço
eu vô mostrá como faiz o pachola
qui inforca u pescoço da viola
rivira toda moda pelo avêsso
i sem arrepará si é noite ou dia
vai longe cantá o bem da furria
sem um tustão na cuia u cantadô
canta inté morrê o bem do amô.
letra disponível em: http://www.elomar.com.br/discografia/letras/violero.html
4ª aula
Após a apresentação do artista realizada na terceira aula,
instrua os alunos a pesquisar na internet sobre a figura de Elomar, basta uma
busca rápida para encontrar o sítio, ou melhor, a "porteira" do
cantador e lá terão matéria para uma pesquisa mais que confiável.
Link: http://www.elomar.com.br/
Instrua os alunos a fazer uma análise comparativa entre as
cantigas trovadorescas e essa manifestação semelhante na nossa música popular e
verdadeiramente sertaneja.
Após a atividade de escuta, leitura e análise os grupos
deverão apresentar suas conclusões sobre a aproximação entre a música popular
brasileira e a poesia trovadoresca.
Avaliação
Para a avaliação podem ser explorados os exemplos das cantigas
de Elomar. Divida-as em grupos de alunos solicitando para que pesquisem em
algum site onde é possível baixar músicas e depois de ouvir e ler as cantigas,
cada grupo deve apresentar para o restante da turma apontando os aspectos que
as fazem semelhantes às cantigas dos trovadores medievais.
A atividade permitirá não só o estudo de um gênero poético
importante, pois trata-se das origens de nossa poesia e de nossa língua
portuguesa, além da exploração da relação muito íntima entre a música e a
poesia. Este aspecto permite entender o valor de artistas como Elomar,
que mantém viva essa tradição medieval dos cantadores e menestréis, mesmo que
modificada pelo tempo, e que nos leva a tocar as raízes de um de nossos troncos
culturais.
Atividades complementares ao longo do ano letivo:
Programar atividades de ida ao laboratório de informática e à
biblioteca ao longo do ano, para pesquisa de novas e maiores informações sobre
o Trovadorismo, sempre trabalhando com a sala a Sondagem Diagnóstica em Roda de
Conversa, expondo seu conhecimento histórico sobre o período trovadoresco e
exclarecendo as dúvidas dos alunos.
Bibliografia:
UOL.
Português . Disponível em:<http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/trovadorismo---poesia-cantigas-de-amor-de-amigo-e-de-escarnio-e-maldizer.htm>. Acesso
em: 01 mai. 2013
BRASIL
ESCOLA. Literatura. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/literatura/trovadorismo.htm>.Acesso
em: 01 mai. 2013
INFO ESCOLA.
Movimentos Culturais. Disponível em: <http://www.infoescola.com/movimentos-culturais/trovadorismo/>.
Acesso em: 01 mai. 2013
MEC. Ficha
Tecnica Aula. Disponível em: <http://portaldoprofessorhmg.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=37295>.
Acesso em: 01 mai. 2013
RICARDO
COSTA. Textos Trovadorismo. Disponível em: <http://www.ricardocosta.com/textos/guilherme2.htm >.
Acesso em: 01
mai. 2013
ELOMAR.
Discografia. Disponível em: <http://www.elomar.com.br/discografia/letras/violero.html >.
Acesso em: 01
mai. 2013
ELOMAR.
Disponível em:<http://www.elomar.com.br/
>. Acesso em: 01
mai. 2013
CECAC. Artes. Disponível em: <http://www.cecac.org.br/Artes_Almeida_Jr.htm
>. Acesso em: 01 mai. 2013
Postado por Edna M. Borges em 05/05/13 - 12h:58m
Olá, Edna. Você acabou por fazer vários planos de aula. Estão bem detalhados e de acordo com a proposta.
ResponderExcluirMaravilhoso
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