"A Educação do Homem começa no momento do seu nascimento; antes de falar, antes de entender, já se instrui."
Jean Jacques Rousseau

segunda-feira, 6 de maio de 2013

CANTIGA DE AMOR/AMIGO

Abaixo tem uma produção pessoal do que poderia ser considerada uma cantiga de amor/ amigo.
O texto ainda não foi avaliado e revisado, portanto pode sofrer alterações e adaptações


"A intenção o era falar-lhe como falo a ti, amiga.
Mas antes das palavras surgiram olhares incertos, que fizeram incertas
As primeiras  palavras.
Passada a confusão enfim falamo-nos
e intenções foram reveladas: quero ter a ti como uma amiga amada.
Por um breve momento tudo se encaixou. Passeios amigos e conversa sobre quem lhe deixou.
Mas os olhos traem a palavra, e as mãos tremulam ao percebê-la.
Me desviei, desorientada, ja prometida, enlouquecida.
"Deixemos para compartilhar apenas o amor pela cantiga"
Mas ah o olhar...grande traidor, deixa-nos incertos, sem querer afastar o que está perto, procurando uma solução.
Recua, recua. Feito será.
Mas espera quieta, na espreita, afim de sentir outra vez as trêmulas mãos.
Quando questionada sobre seu olhar de ressaca, ou seria olhar de cigana oblíqua? Que tanto divagas? "Napa penso, só dispenso, querida amiga..."

Postado por:
Livia Amaral

PLANO DE AULA - TROVADORISMO

PLANO DE AULA


Série: 9º ano                    Ensino Fundamental II
ASSUNTO DA AULA: Trovadorismo

CONTEÚDO:

·         Introdução ao contexto histórico do Trovadorismo; Produção Literária; As cantigas de amor, amigo, escárnio e maldizer.
·         Composição de cantigas trovadorescas primitivas com composições da música popular Brasileira.

OBJETIVOS:

·         Adquirir conhecimento sobre os estilos de época.
·         Conhecer elementos estruturais e as características das cantigas do trovadorismo primitivas fazendo comparação com composições atuais da música popular Brasileira.
·         Desenvolver a capacidade de pesquisar, comparar, selecionar informações e produzir     conhecimentos. 

DURAÇÃO:

.           2 aulas

DESENVOLVIMENTO:

·         Apresentação dos alunos
·         Apresentação de slides com explicações sobre a diferença entre as cantigas líricas e satíricas, comparando as composições trovadorescas antigas e composições contemporâneas da música popular brasileira.

AVALIAÇÃO:

A avaliação será continua, observando os avanços e eventuais dificuldades, debate e perguntas ao longo da apresentação.
Participação do aluno, produção escrita sobre o trovadorismo, análise das cantigas e postagem do material e comentário no blog da classe.

RECURSOS:

·         Caneta
·         Caderno para anotações
·         Músicas
·         Arquivo com as músicas relacionadas
·         Texto / material distribuído pelo professor
·         Computador e data Show
Cantiga de amigo: canção de Martin Codaxe de Caca Moraes, ”fico assim sem você”
Cantiga de amor: canção de D.Dinis e de Seu Jorge, ”mina do condomínio”
Cantiga de mal dizer: canção de Afonso Eanes Cotone de os Caçadores, ” Dona Gigi”
Cantiga de escárnio: canção de Joan Garcia Guilhame e de Gabriel o Pensador, “ Fala sério”

COMPOSIÇÃO DE CANTIGAS TROVADORESCAS PRIMITIVAS COM COMPOSIÇÕES DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

CANTIGA DE AMIGO

·         Amigo é uma mulher (embora os escritores fossem homens)
·         O tema principal é a lamentação da mulher pela falta do amado.
Cantiga de Amigo – Martim Codax
Cantiga de Amigo Atual - Fico assim sem você
(Abdullah / Caca Moraes)
Ondas do mar de Vigo,
Acaso vistes meu amigo? Queira Deus que ele venha cedo!

Ondas do mar agitado
Acaso vistes meu amado?
Queira Deus que ele venha cedo!

Acaso vistes meu amigo
Aquele por quem suspiro?
Queira Deus que ele venha cedo!

Acaso vistes meu amado,
Por quem tenho grande cuidado (preocupado)?
Queira Deus que ele venha cedo!
Avião sem asa,
Fogueira sem brasa,
Sou eu assim, sem você
Futebol sem bola,
Piu-piu sem Frajola,
Sou eu assim, sem você...

Porque é que tem que ser assim?
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil auto-falantes
Vão poder falar por mim...

Tô louco prá te ver chegar
Tô louco prá te ter nas mãos
Deitar no teu abraço
Retomar o pedaço
Que falta no meu coração...

Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver,
Mas o relógio tá de mal comigo...

Por quê? Por quê?

Neném sem chupeta,
Romeu sem Julieta,
Sou eu assim, sem você
Carro sem estrada,
Queijo sem goiabada,
Sou eu assim, sem você...

Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver,
Mas o relógio tá de mal comigo...

Por quê? Por quê?


CANTIGA DE MAL DIZER

·         Sátira direta.
·         Maledicência.
·         Uso de palavras obscenas ou de conteúdo erótico.
·         Citação nominal da pessoa satirizada. 
(Afonso Eanes de Coton)
“Gigi” de Os Caçadores.

Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado

de te não ver rebentar;

pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;

e com este nariz meu,

tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,

tapo-te ao primeiro sono;

com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,

com os colhões te tapo o cu.

E não rebentas, Marinha?


Ih dasqui ih
“eu sou a dona gigi”
Ih dasquidasquidasqui ih
"esse aqui é meu esposo"
Ih dasquidasquidasqui ih
"esse aí é seu esposo?!?"
Ih dasquidasquidasqui ih
"é sim..."
Se me vê agarrado com ela
Separa que é briga tá ligado!
Ela quer um carinho gostoso
Um bico dois soco e três cruzado!
Tá com pena leva ela pra casa
Porque nem de graça eu quero essa mulher!
Caçadores estão na pista pra dizer como ela é...
Se me vê agarrado com ela
Separa que é briga, tá ligado!
Ela quer um carinho gostoso
Um bico dois soco e três cruzado!
Tá com pena leva ela pra casa
Porque nem de graça eu quero essa mulher!
Caçadores estão na pista pra dizer como ela é...
Caolha, nariz de tomada, sem bunda, perneta,
Corpo de minhoca, banguela, orelhuda, tem unha incravada,
Com peito caido e um caroço nas costas...
Ih gente! capina, despenca,
Cai fora, vai embora ,
Se não vai dançar,
Chamei 2 guerreiros,
Bispo macedo, com padre quevedo pra te exorcisar...
Oi, vaza!
Tchatchritchatchritchatchum, tchritchatchritcha
Fede mais que um urubu,
Canhão! vou falar bem curto e grosso contigo, hein...
Já falei pra vaza!
Coisa igual nunca se viu...
Oh vai pra puxa... tu é feia...


CANTIGA DE AMOR

·         Amor do trovador pela mulher amada.
·         Mulher idealizada.
·         Contemplação platônica.
·         Sofrimento por amor.
·         Vassalagem amorosa.
·         Amor cortês.
(D. Dinis )
“Seu Jorge” Mina do Condomínio
Quer’eu em maneira de proença!
fazer agora um cantar d’amor
e querreimuit’iloarlmia senhor
a que prez nem fremosuranomfal,
nem bondade; e mais vos direi ém:
tanto a fez Deus comprida de bem
que mais que todas las do mundo val.
Ca mia senhor quizo Deus fazer tal,
quando a faz, que a fez sabedord
e todo bem e de mui gram valor,
e com tod’est[o] é mui comunal
ali u deve; erdeu-lhi bom sém,
e desinomlhi fez pouco de bem
quando nom quis lh’outra
foss’igual
Ca mia senhor nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad’eloor
e falar mui bem, e riir melhor
que outra molher; desi é leal
muit’, e por estonom sei oj’eu quem
possa compridamente no seu bem
falar, canom á, tra-lo seu bem, al.
Tô namorando aquela mina
Mas não sei se ela me namora
Mina maneira do condomínio
Lá do bairro onde eu moro Seu cabelo me alucina
Sua boca me devora
Sua voz me ilumina
Seu olhar me apavora
Me perdi no seu sorriso
Nem preciso me encontrar
Não me mostre o paraíso
Que se eu for, não vou voltar
Pois eu vou
Eu vou
Eu digo "oi" ela nem nada
Passa na minha calçada
Dou bom dia ela nem liga
Se ela chega eu paro tudo
Se ela passa eu fico doido
Se vem vindo eu faço figa
Eu mando um beijo ela não pega
Pisco olho ela se nega
Faço pose ela não vê
Jogo charme ela ignora
Chego junto ela sai fora
Eu escrevo ela não lê
Minha mina
Minha amiga
Minha namorada
Minha gata
Minha sina
Do meu condomínio
Minha musa
Minha vida
Minha monalisa
Minha vênus
Minha deusa
Quero seu fascínio
(desde o começo)
Minha namorada
Do meu condomínio
Minha monalisa
Quero seu fascínio


CANTIGA DE ESCÁRNIO

·         Referências indiretas
·         Ironia
·         Não se revela o nome da pessoa satirizada
Joan Garcia de Guilhade

Fala Sério “Gabriel O Pensador

Ai, dona fea, fostes-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus mi pardom,
pois avedes [a]tamgramcoraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero jaloar toda via;
e vedes qual sera a loaçom:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora ja um bom cantrar farei,
em que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
Fala sério, me fazendo de palhaço
Fazendo estardalhaço
De onde vem o dinheiro do mensalão?
Olha a nuvem de fumaça desviando a atenção
Tem culpa eu, seu delegado?
Tem culpa eu?
Tem culpa eu, seu deputado?
Tem culpa eu?
Tem culpa eu, seu senador?
Tem culpa eu?
Tem culpa eu, presidente?
Por favor!
Por que divulgar uma conversa sem valor?
Por quê?
Pra tentar calar a voz do pensador?
Por quê?
Pra tentar pegar uma capa de revista?
Por quê?
Pra dizer que a culpa é toda dos artistas?
Por quê?
Ah não, artista não. É maconheiro!
Sustenta o traficante que sustenta o mundo inteiro
Se eu fosse um maconheiro que comprasse um camarão,
Será que o meu dinheiro ia parar no mensalão?
Não sei, só sei que eu não preciso dizer nada
Se eu fumo, se eu bebo... tremenda palhaçada!
Falei sobre a maconha há mais de 6 anos atrás
Compra o disco, delegado, toca o Cachimbo da Paz
Ou então pode comprar o CD pirata
Tem sempre alí na esquina, pode ser mais vantajoso,
Mas cuidado pra não ser pego em flagrante
Posar de vagabundo sustentando criminoso.
Todos nós sustentamos criminosos,
Eu confesso que sustento,
Sustento, mas não gosto.
Mas não é nada disso que você tá pensando
Eu tô falando dos bandidos que recebem meus impostos.
Alimentam, se alimentam da miséria,
Mas quem vai na favela é o craque ou o artista
A foto do corrupto já deu muita matéria
A foto do famoso vende muito mais revista.
É...político no crime já não é mais novidade
Prefiro uma fofoca diferente
Mesmo se não for crime de verdade,
Mas é celebridade. Diz que é crime pra ficar mais atraente,
Mas quem é que alimenta a miséria que oprime
E empurra o favelado pro lado do crime?
Alguns vão ser cantores, alguns vão jogar bola,
Mas muitos sem escola acabam na pistola.
Morrendo, matando, o mundo se acabando
E tanta gente de braços cruzados.
Parece que ta tudo combinado
O que eu sei vocês já sabem
Espero que eu tenha colaborado


RESULTADO ESPERADO:

Espera-se que o aluno:
·         Compreenda que a produção literária está interligada aos momentos históricos e sociais
·         Conheça a produção literária do trovadorismo
·         Seja capaz de identificar as principais características das cantigas trovadorescas

 

REFERÊNCIAS

AMARAL, Emília [etal].Português. São Paulo: FTD, 2000. Pág 32 a 40.
Trovadorismo. Disponível em: < http://letrasliteratura-trovadorismo.blogspot.com.br/2012/05/plano-de-aula-serie-1-ano-ensino-medio.html>. Acesso em 04 Maio 2013.
Trovadorismo. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/trovadorismo/trovadorismo.php>.Acesso em 04 Maio 2013.
Trovadorismo. Disponível em: <http://recantodasletrasuniderp.blogspot.com.br/2012/06/planejamento-de-aula-trovadorismo.html>. Acesso em 05 Maio 2013.
Mina Do Condomínio.Disponível em: <http://letras.terra.com.br/seu-jorge/1089752/ > Acesso em 05 Maio 2012
MASSAUD, Moises. A Literatura portuguesa através dos textos. São Paulo, Cultrix: 1ª edição, 1968.
               Postado por: Maria dos Anjos em 06/05/13 - 08h:19m

domingo, 5 de maio de 2013

CANTIGA DA RIBEIRINHA

Como foi mencionado anteriormente, a Cantiga da Ribeirinha é considerado o texto mais antigo em galego português.

abaixo segue o poema que serviu como modelo:

"No mundo non me sei parelha,
mentre me for' como me vai,
ca ja moiro por vós - e ai!
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, des aquel di', ai!
me foi a mi muin mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d'haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
Nunca de vós ouve nem ei
valía d'ũa correa."

Reproduzido em português atual:

"No mundo ninguém se assemelha a mim
Enquanto a vida continuar como vai,
Porque morro por vós e - ai! -
Minha senhora alva e de pele rosadas,
Quereis que vos retrate
Quando eu vos vi sem manto.
Maldito seja o dia em que me levantei
E então não vos vi feia!

E minha senhora, desde aquele dia, ai!
Tudo me ocorreu muito mal!
E a vós, filha de Dom Paio
Moniz, parece-vos bem
Que me presenteeis com uma guarvaia,
Pois eu, minha senhora, como presente,
Nunca de vós recebera algo,
Mesmo que de ínfimo valor."

Fonte:

Nicola, J. Literatura portuguesa da Idade Média a Fernando Pessoa. São Paulo: Scipione, 1992. ed. 2. p. 28. ISBN 85-262-1623-6



Ainda encontramos uma reprodução em audio da cantiga com a base musical de "Asa branca" de Luiz Gonzaga.



Livia Amaral

Cantiga Galego Portuguesa

Logo abaixo temos uma canção galego portuguesa, que puxa para o tema da canção de amigo.
Não foi possível pesquisar a fonte, uma vez que as canções foram compartilhadas via rede social, assim como não é possível saber se o ritmo produzido é o original da canção.
De toda forma, é uma bela produção e que esta a disposição para qualquer interessado no assunto:



Livia Amaral


PLANO DE AULA PARA ALUNOS DO ENSINO MÉDIO


Poesia trovadoresca e sua relação com a música popular

  

Objetivo

- apresentar a poesia trovadoresca e suas características de forma e conteúdo;
- identificar a estreita relação da poesia trovadoresca com a música e reconhecer os efeitos de sentido decorrentes desta relação;
- relacionar a poesia trovadoresca com a música popular contemporânea e identificar as possíveis semelhanças temáticas e formais. 
 

Duração das atividades

- 4 aulas  

Organização da sala

- pequenos grupos de alunos que pesquisarão e discutirão sobre o tema. 

 Recursos didáticos

- Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com os alunos. 
- Habilidades básicas de leitura e escrita.
- Conhecimento histórico sobre o período trovadoresco.
- Utilização do laboratório de informática e da biblioteca. 
 

Desenvolvimento das atividades


1ª aula


Para a primeira atividade apresentar para os alunos as imagens abaixo, disponíveis nos respectivos sites:



Iluminura das Cantigas de Santa Maria (Ms. escurialense)

 

Solicitar para que levantem hipóteses sobre a origem dessas imagens e sobre quem podem ser esses indivíduos representados nelas.
Após as hipóteses, espera-se que os alunos, ao menos, aproximem seus apontamentos em relação ao período histórico, a Idade Média, por causa das vestes e das características dos instrumentos musicais. Em relação ao papel dos indivíduos retratados na imagem, provavelmente, os alunos irão defini-los como músicos, devido aos instrumentos empunhados por eles e às pautas inscritas ao fundo na segunda imagem.
Tendo em vista essa relação apresentar a seguinte questão para um debate:
O que esses homens têm a ver com a poesia?
No princípio pode sobressair a dúvida, por não haver referências na imagem à linguagem poética, principalmente a escrita, mas aos poucos deve inserir elementos com algumas dicas históricas, como o questionamento sobre a definição de "trova", para que os alunos compreendam que esses cantadores também eram poetas, muitas vezes mais poetas do que músicos.
Mais uma vez o estimular os alunos a demonstrar seus conhecimentos históricos, perguntando, por exemplo, o que sabem sobre trovadores, vates e menestréis?
Levá-los para o laboratório de informática ou biblioteca para que consultem alguma enciclopédia para o esclarecimento de quem foram esses cantadores e do contexto em que viviam.
Daí ficará esclarecido que trovadores, vates e menestréis eram os cantadores, que portando instrumentos como o alaúde, a lira, a flauta, e outros, levavam para a corte, e mesmo para os plebeus, na Idade Média, o conhecimento de histórias de outros reinos e lugares distantes, além da expressão sentimental de seus versos cantados.
É importante que fique claro para os alunos que a poesia na época dos trovadores era oral, sendo registrada apenas mais tarde em cancioneiros, e por isso era acompanhada da música para facilitar a continuidade do ritmo e a memorização dos textos. Consequentemente, esses poemas cantados passaram a ser chamados cantigas.
As cantigas, geralmente, eram acompanhadas por um coro e por instrumentos musicais. Seu público não era constituído de leitores, mas de ouvintes. Era, portanto, poesia intimamente ligada à música, própria para apresentações coletivas.
As cantigas compostas pelos trovadores eram musicadas e interpretadas pelos jograis, pelo segrel e pelo menestrel (gente humilde que sobrevivia cantando em público), artistas agregados às cortes ou que perambulavam pelas cidades e feiras. Os trovadores eram quase sempre de origem nobre.
Após essas informações contextuais, adquiridas com a pesquisa, a classe pode chegar a uma conclusão sobre as características das cantigas. Dividir a sala em grupos e pedir que exponham para os colegas os dados coletados na pesquisa, além da conclusão de cada grupo.

2ª aula


Para a segunda atividade apresentar para os alunos as características dos gêneros das cantigas:
Lírico (amor e amigo) e Satírico (escárnio e maldizer).
As cantigas de escárnio e maldizer são a primeira manifestação da sátira na literatura portuguesa. Menos presas a modelos e convenções do que as cantigas de amigo e de amor, as cantigas satíricas buscaram um caminho poético próprio voltando-se para a crítica dos costumes, tendo como alvo diferentes personalidades da sociedade portuguesa: clérigos devassos, cavaleiros e nobres covardes, prostitutas, alguns trovadores e jograis, as soldadeiras (mulheres que cantavam e dançavam durante as apresentações). Há uma pequena diferença entre esses dois tipos de cantiga: enquanto na cantiga de escárnio o nome da pessoa satirizada não é revelada, na cantiga de maldizer fica claro para quem é a sátira, sendo a linguagem da segunda mais direta e obscena.
Para esta aula, é necessário dar mais atenção às cantigas de amor e de amigo.
Abaixo um exemplo de cantiga de amigo onde o trovador Julião Bolseiro, o diálogo se estabelece entre a mulher apaixonada e sua filha, que impede a mãe de ver seu amado:

Mal me tragedes, ai filha,
porque quer ‘ aver amigo
e pois eu com vosso medo
non o ei, nen é comigo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.


Sabedes ca sen amigo
nunca foi molher viçosa,
e, porque mi-o non leixades
ver, mia filha fremosa,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.

Pois eu non ei meu amigo,
non ei ren do que desejo,
mais, pois que mi por vós v~eo
Mia filha, que o non vejo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.

Por vós perdi meu amigo,
por que gran coita padesco,
e, pois que mi-o vós tolhestes
e melhor ca vós paresco
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça

Solicitar aos alunos, após a leitura da cantiga que apontem seus elementos característicos,sendo: temática; eu lírico; forma paralelística; refrão.
A temática das cantigas de amigo é variada:

(a) a separação do namorado, que parte em alguma expedição militar e a espera de seu retorno;
(b) a romaria a lugares santos, onde a donzela busca uma conquista amorosa, através da dança;
(c) as bailadas, que versam exclusivamente o tema da dança;
(d) as marinhas ou barcarolas, à beira do mar;
(e) o tema das tecedeiras, no interior dos lares;
(f) e o tema das chamadas cantigas de fonte, onde as donzelas iam lavar os cabelos ou mesmo a roupa, encontrando-se então com os namorados.

Em alguns casos, os temas se confundem, há uma fusão. Na forma paralelística da cantiga de amigo, a unidade rítmica não é a estrofe, mas o par de estrofes ou o par de dísticos (dois versos). Ambos os dísticos dizem a mesma coisa, diferindo quase só nas palavras em rima. O último verso de cada estrofe, quase sempre, é o primeiro verso das estrofes no par seguinte. Assim, nessa estrutura paralelística, observa-se que os versos de um par de estrofes se repetem no outro par sem sofrer alteração de sentido, somente na forma se alteram, e são seguidos de refrão, como no exemplo.

Abaixo uma cantiga de amor do século XIII, do trovador Joan Garcia de Guilhade:

Amigos, non poss’eu negar
a gram coita que d’amor hei,
ca me vejo sandeu andar,
e com sandece o direi:
os olhos verdes que eu vi
me fazem ora andar assi.
Pero quenquer x’entenderá
aquestes olhos quaes som,
e d’est alguem se queixará,
mais eu, já quer moiro ou non:
os olhos verdes que eu vi
me fazem ora andar assi.
Pero non devi’ a perder
home que já o sem non há,
de com sandece rem dizer,
e com sandece dig’ eu já;
os olhos verdes que eu vi
me fazem ora andar assi.

Após a leitura da cantiga, solicitar aos alunos que apontem no caderno os elementos característicos das cantigas de amor: temática; eu lírico; expressão do amor cortês

3ª aula


Antes de apresentar alguns textos de nossa música popular, que trazem as características das cantigas trovadorescas, mostrar aos alunos a imagem do "Violeiro" (1899), do pintor Almeida Júnior. Solicitar que destaquem algumas particularidades da imagem:
O que faz o homem ao centro?
Para quem ele dirige sua cantiga?
Em que ambiente ele se encontra (urbano ou rural)?


Após a participação dos alunos, explicar qual a relação entre o meio rural, o caipira, seu violão e sua amada.
O violeiro é um cantador solitário como eram os trovadores e menestréis e é com sua cantiga que se comunica com a amada (senhora). Salvo as diferenças culturais e históricas, podemos perceber as semelhanças entre esse cantador sertanejo e os poetas trovadores (principalmente o das cantigas de amigo, que tematizam a simplicidade do ambiente campestre e a cultura popular, embora este eu lírico seja geralmente feminino, cabendo ao eu lírico masculino a expressão nas cantigas de amor).
Na nossa música popular também ocorrem algumas manifestações desses cantadores que se assemelham aos trovadores. Alguns deles são fiéis à estrutura de composição, à temática medieval e a uma variante arcaica ou regionalista da língua, com termos de pouco uso contemporâneo, sobretudo nos ambientes urbanos. Isso faz com que suas cantigas estejam muito próximas das medievais, considerando a distância temporal de 1000 anos, ao mesmo tempo que são um exemplo típico da cultura do sertão brasileiro.
Um dos maiores exemplos da tradição do cantador, na atualidade, é Elomar Figueira de Melo.
Abaixo a canção "O Violêro", que expressa muito bem qual a função do "errante" dessa "mudernage". Após se apresentar, revelar sua crença religiosa e dizer que já cantou em um castelo (referências ao medievalismo), o trovador ressalta que o que mais vale para ele é a música, a liberdade e o amor: "viola, furria, amô, dinhêro não". É o que canta até o fim, independente de sua penúria: "sem um tustão na cuia u cantadô/ canta inté morrê o bem do amô".

O Violêro

Vô cantá no canturi primero
as coisa lá da minha mudernage
qui mi fizero errante e violêro
eu falo séro i num é vadiage
i pra você qui agora está mi ôvino
juro inté pelo Santo Minino
Vige Maria qui ôve o qui eu digo
si fô mintira mi manda um castigo
Apois pro cantadô i violero
só hai treis coisa nesse mundo vão
amô, furria, viola, nunca dinhêro
viola, furria, amô, dinhêro não
Cantadô di trovas i martelo
di gabinete, ligêra i moirão
ai cantadô já curri o mundo intêro
já inté cantei nas portas di um castelo
dum rei qui si chamava di Juão
pode acriditá meu companhêro
dispois di tê cantado u dia intêro
o rei mi disse fica, eu disse não
Si eu tivesse di vivê obrigado
um dia inantes dêsse dia eu morro
Deus feis os homi e os bicho tudo fôrro
já vi iscrito no Livro Sagrado
qui a vida nessa terra é u'a passage
i cada um leva um fardo pesado
é um insinamento qui derna a mudernage
eu trago bem dent' do coração guardado
Tive muita dô di num tê nada
pensano qui êsse mundo é tud'tê
mais só dispois di pená pelas istrada
beleza na pobreza é qui vim vê
vim vê na procissão u Lôvado-seja
i o malassombro das casa abandonada
côro di cego nas porta das igreja
i o êrmo da solidão das istrada
Pispiano tudo du cumêço
eu vô mostrá como faiz o pachola
qui inforca u pescoço da viola
rivira toda moda pelo avêsso
i sem arrepará si é noite ou dia
vai longe cantá o bem da furria
sem um tustão na cuia u cantadô
canta inté morrê o bem do amô.


 

4ª aula


Após a apresentação do artista realizada na terceira aula, instrua os alunos a pesquisar na internet sobre a figura de Elomar, basta uma busca rápida para encontrar o sítio, ou melhor, a "porteira" do cantador e lá terão matéria para uma pesquisa mais que confiável. Link: http://www.elomar.com.br/
Instrua os alunos a fazer uma análise comparativa entre as cantigas trovadorescas e essa manifestação semelhante na nossa música popular e verdadeiramente sertaneja.
Após a atividade de escuta, leitura e análise os grupos deverão apresentar suas conclusões sobre a aproximação entre a música popular brasileira e a poesia trovadoresca.

 

Avaliação


Para a avaliação podem ser explorados os exemplos das cantigas de Elomar. Divida-as em grupos de alunos solicitando para que pesquisem em algum site onde é possível baixar músicas e depois de ouvir e ler as cantigas, cada grupo deve apresentar para o restante da turma apontando os aspectos que as fazem semelhantes às cantigas dos trovadores medievais.
A atividade permitirá não só o estudo de um gênero poético importante, pois trata-se das origens de nossa poesia e de nossa língua portuguesa, além da exploração da relação muito íntima entre a música e a poesia. Este aspecto permite entender o valor de artistas como Elomar, que mantém viva essa tradição medieval dos cantadores e menestréis, mesmo que modificada pelo tempo, e que nos leva a tocar as raízes de um de nossos troncos culturais.
 

Atividades complementares ao longo do ano letivo:


Programar atividades de ida ao laboratório de informática e à biblioteca ao longo do ano, para pesquisa de novas e maiores informações sobre o Trovadorismo, sempre trabalhando com a sala a Sondagem Diagnóstica em Roda de Conversa, expondo seu conhecimento histórico sobre o período trovadoresco e exclarecendo as dúvidas dos alunos.

 

Bibliografia:  


UOL. Português . Disponível em:<http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/trovadorismo---poesia-cantigas-de-amor-de-amigo-e-de-escarnio-e-maldizer.htm>. Acesso em: 01 mai. 2013

BRASIL ESCOLA. Literatura. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/literatura/trovadorismo.htm>.Acesso em: 01 mai. 2013

INFO ESCOLA. Movimentos Culturais. Disponível em: <http://www.infoescola.com/movimentos-culturais/trovadorismo/>. Acesso em: 01 mai. 2013

MEC. Ficha Tecnica Aula. Disponível em: <http://portaldoprofessorhmg.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=37295>. Acesso em: 01 mai. 2013

RICARDO COSTA. Textos Trovadorismo. Disponível em: <http://www.ricardocosta.com/textos/guilherme2.htm >. Acesso em: 01 mai. 2013

ELOMAR. Discografia. Disponível em: <http://www.elomar.com.br/discografia/letras/violero.html >. Acesso em: 01 mai. 2013

ELOMAR. Disponível em:<http://www.elomar.com.br/ >. Acesso em: 01 mai. 2013

CECAC. Artes. Disponível em: <http://www.cecac.org.br/Artes_Almeida_Jr.htm >. Acesso em: 01 mai. 2013
 Postado por Edna M. Borges em 05/05/13 - 12h:58m
 

quarta-feira, 1 de maio de 2013

VIDEO SOBRE TROVADORISMO (Seminário realizado por alunos do Ensino Médio)


 
Essa é uma produção realizada por alunos do ensino médio que mostra como é possível trabalhar Literatura e em especial o tema Trovadorismo com os adolescentes, conduzindo ao aprendizado de forma prazerosa.

TAGUIAR1818. Trovadorismo. Disponível em:<http://www.youtube.com/watch?v=udzqkuPyjyU>. Acesso em: 01 de mai. 2013
                                                       Postado por Edna Maria Borges

quarta-feira, 17 de abril de 2013

CANTIGAS MEDIEVAIS GALEGO - PORTUGUESAS


Este site contém um acervo maravilhoso sobre Canção Trovadoresca, nele é possível ouvir, ler a letra, partitura, dados de CDs e diversas informações sobre o Cantigas Medievais:

http://cantigas.fcsh.unl.pt/versaomusical.asp?cdvm=114
http://cantigas.fcsh.unl.pt/index.asp




Cantiga Original Ondas do Mar de Vigo


Intervenientes

Compositor: Martim Codax
Director: Paul Hillier
Canto: Paul Hillier
Produtor: Manuel Pedro Ferreira
Transcrição da cantiga: Manuel Pedro Ferreira



 
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
e ai Deus, se verrá cedo?
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
e ai Deus, se verrá cedo?
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro?
e ai Deus, se verrá cedo?
Se vistes meu amado,
o por que hei gram coidado?
e ai Deus, se verrá cedo?





THEATRE OF VOICES com Andrew Lawrence-King, Cantigas – Martin Codax. Jaufre Rudel. Dom Dinis - CD1 – Songs of Martin Codax & Jaufre Rudel
Paul Hillier

Faixas
 

2 - Cantiga I Ondas do mar de Vigo

Direcção musical: Paul Hillier; Transcrição da cantiga: Manuel Pedro Ferreira; Produtor: Manuel Pedro Ferreira
Canto: Paul Hillier

 

3 - Cantiga II Mandad’ei comigo

Transcrição da cantiga: Manuel Pedro Ferreira; Direcção musical: Paul Hillier; Produtor: Manuel Pedro Ferreira; Editor: Manuel Pedro Ferreira
Canto: Paul Hillier

 

4 - Cantiga III Mia irmana fremosa

Transcrição da cantiga: Manuel Pedro Ferreira; Direcção musical: Paul Hillier; Produtor: Manuel Pedro Ferreira; Editor: Manuel Pedro Ferreira
Canto: Paul Hillier

 

5 - Cantiga IV Ai Deus, se sab'ora meu amigo

Transcrição da cantiga: Manuel Pedro Ferreira; Direcção musical: Paul Hillier; Produtor: Manuel Pedro Ferreira; Editor: Manuel Pedro Ferreira
Canto: Paul Hillier

 

6 - Cantiga V Quantas sabedes amare amigo

Transcrição da cantiga: Manuel Pedro Ferreira; Direcção musical: Paul Hillier; Reconstrução da melodia: Manuel Pedro Ferreira; Produtor: Manuel Pedro Ferreira
Voz declamada: Paul Hillier

 

7 - Cantiga VI En’no sagrado Vigo

Direcção musical: Paul Hillier
Voz declamada: Paul Hillier
 

8 - Cantiga VII Ai ondas que eu vin veere

Transcrição da cantiga: Manuel Pedro Ferreira; Direcção musical: Paul Hillier; Produtor: Manuel Pedro Ferreira; Editor: Manuel Pedro Ferreira
Canto: Paul Hillier



PROJETO LITTERA. Cantigas Medievais Galego - Portuguesas. Disponível em: http://cantigas.fcsh.unl.pt/index.asp. Acesso em 17 Abr 2013

                                                     Postado por Maria dos Anjos

Olá, Pessoal

Nos links abaixo vocês podem ler e ouvir algumas cantigas trovadorescas. Profa. Ligia quem indicou

http://www.agal-gz.org/modules.php?name=Biblio

http://cantigas.fcsh.unl.pt/versaomusical.asp?cdcant=592&cdvm=98


                                                   Postado por Sandra